segunda-feira, 13 de setembro de 2010

SPECIMEN - Rícino

Não sei precisar a data, mas creio que terá sido aí por volta de 1989 que vi na televisão um filme que me deliciou absolutamente- "Amarcord" de Fellini. É um filme pleno de cenas antológicas,mas interessa-me aqui recordar uma em particular, em que uma das personagens é questionada por agentes da polícia política de Mussolini. Em causa estava a desconfiança que revelara ter em relação ao líder fascista. Para o "libertar" de tais pruridos, os esbirros fazem-no engolir alguns frascos de óleo de rícino. Retrato grotesco de uma ditadura e de uma sociedade povoada de características patéticas, esta cena faz combinar o cómico de uma espécie de tortura ligeira, se é que posso classificar assim, com o efeito de profunda humilhação e de diminuição humana da personagem em causa, um chefe de família impotente perante tais sevícias.
A palavra rícino entrou aí para o meu imaginário, embora sem que a pudesse verdadeiramente visualizar como algo concreto. O óleo de ricino era para mim um instrumento de Fellini para uma cena fabulosa de um filme fabuloso, e em menor grau, era também algo que a minha mãe fora obrigada a engolir em criança para agilizar os intestinos e que, entretanto e por bons motivos, deixara de ser usado como laxante (de forma corrente, pelo menos).
Na sequência do meu trabalho com a série SPECIMEN acabei por descobrir que o rícino me era perfeitamente familiar. Trata-se do fruto dum arbusto comum. A Figueira-do-Inferno cresce espontaneamente no Algarve, sendo vulgar ,por exemplo, nas bordas das estradas. O nome deriva da folha que é semelhante à da figueira. O seu fruto tem um aspecto algo esférico, e é caracterizado por protuberâncias semelhantes a espinhos. Varia a sua cor de um laranja claro acastanhado a um espantoso vermelho vivo.


Júlio Assis Ribeiro,
SP_V_RCN-01
Rícino, Fruto da Figueira-do-Inferno(Ricinus communis),2010

__________________________________________________________

Sem comentários:

Enviar um comentário