terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Revolução deles


 Alberto Carlos Lima, grupo de civis revolucionários, 5 de Outubro de 1910
imagem obtida aqui

Há cem anos e um dia uma revolução militar deu os primeiros passos de forma oleada e promissora. Depois tudo começou a correr mal.

O almirante Cândido dos Reis, que estava destinado a ser o elemento chave e o coordenador do golpe, fica retido por falta de transporte e não consegue embarcar para o navio da Armada determinado. Seguidamente recebe informações incorrectas que davam como frustrado o inicio da revolta, e desaparece sem que mais saibam dele até ser tragicamente tarde. Será encontrado morto, numa azinhaga, presumindo-se o seu suicídio. As unidades sublevadas do exército encontram resistência e não conseguem avançar. Acantonam-se na Rotunda e aí a revolução fica praticamente acéfala. Apenas um oficial, o comissário naval Machado Santos, fica com os sargentos e os praças. A acção parecia condenada ao mesmo desfecho da revolta portuense de 31 de Janeiro de 1891.

Seguem-se bombardeamentos mútuos. As peças ao dispor de Machado Santos disparam sobre o Rossio. A resposta do capitão Paiva Couceiro, com a artilharia vinda de Queluz, provoca baixas na Rotunda e o seu avanço parece ser retido apenas por ordens superiores. Os cruzadores Adamastor, controlado pelo tenente Mendes Cabeçadas, e S. Rafael contrapõem à aparente superioridade terrestre dos monárquicos um bombardeamento, a partir do Tejo, dos ministérios e do Palácio das Necessidades, levando à saída do rei.

A situação militar em terra está em risco, mas os cerca de duzentos militares revoltosos vêem as suas posições engrossar com chegada de contingentes de civis que, com armas próprias ou com as que os barricados lhe entregam, se revelam decisivos. A acção da Carbonária faz que com que uma massa de comerciantes, artesãos, funcionários e outros membros da incipiente pequena burguesia citadina aflua ao contingente revoltoso. Os oficiais ausentes, reflectindo a situação, retornam às hostes revolucionárias.

Na manhã de cinco de Outubro de 1910, após os fortes bombardeamentos monárquicos da madrugada, um caricato incidente fará os republicanos sentir o cheiro da vitória e precipitará o fim do impasse militar. Um diplomata alemão tenta negociar um armistício para permitir a evacuação de cidadãos estrangeiros, e a visão de uma bandeira branca leva a crer que os do governo se rendem. Na confusão gerada, as forças monárquicas revelam-se impotentes perante a afluência de populares que acorrem ao Rossio e aos Restauradores. Machado Santos que aceitara relutantemente o armistício proposto pelo representante alemão, sente-se em posição de força e impõe a rendição ao general Gorjão Henriques, que comandava os oponentes.

Às nove horas da manhã, Carlos Relvas, acompanhado de Eusébio Leão e de todo um pequeno directório republicano, proclama do alto da varanda dos paços do concelho a instauração da República.

Nas ruas os civis, que antes se aglomeravam junto a uns poucos militares revoltosos, festejam efusivamente. Vemo-los amontoados em cima e em torno de um dos raríssimos automóveis, acenando os chapéus. A revolução, que era deles, vencera.

E não adivinhavam então as desilusões futuras.


(atribuída a) Joshua Benoliel,
Implantação da República, 5 de Outubro de 1910
Imagem obtida aqui


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