segunda-feira, 8 de abril de 2013

Com a Natureza e uma câmara

Richard e Cherry Kearton,
Fotografando um ninho, 1900
imagem obtida aqui


A Fotografia de natureza e da vida selvagem é um género cheio de especificidades, com um público muito particular e entusiasta, e toda uma série de publicações, concursos e prémios.
As suas origens ligam-se aos primórdios da fotografia, à ânsia de registar tudo que o que nos confronta. Uma das primeiras divisões que se dão na técnica é da divisão entre os que nela viam apenas uma arte, herdeira da pintura, e os que nela viam uma nova ferramenta para ciência, a forma de criar um novo olhar, mais analítico sobre a realidade. Tal divisão não é estranha em meados de oitocentos, na sua era pré-industrial, quando a fotografia não comercial era coisa de amadores com tempo livre, que antes se dedicavam ou às artes ou às ciências.

Desde então a tecnologia progrediu grandemente. Nos primeiros tempos pouco mais se podia fazer que fotografar animais empalhados, tais eram as limitações de equipamento e de sensibilidade dos suportes fotográficos, mas depois os avanços foram rápidos e chegou-se ao actual nível de sofisticação.

Mas algumas coisas não mudaram. Uma delas, que definitivamente ainda perdura, é de que este género não lida com modelos muito colaborativos. Os animais, regra geral, não são criaturas que se façam à câmara. Fotografá-los na natureza é um trabalho de paciência, de truque, de manha, por vezes de improvisação.
E muitas das práticas e soluções de hoje são as mesmas dos pioneiros, precedem-nos em mais de cem anos.

Richard e Cherry Kearton foram dois irmãos, filhos de lavrador, criados no meio rural inglês, que conheciam a fauna e os campos com grande propriedade. O mais velho, Richard, em 1882, actuaria como  guia da sua região natal para um editor londrino que procurava caçar patos. Sydney Galpin ficou fascinado com o avassalador conhecimento que o jovem de vinte e um anos demonstrava, e convidou-o para trabalhar como autor na sua editora. Em 1887, com dezasseis anos apenas, Cherry juntou-se ao irmão na Cassell, Petter & Galpin, trabalhando como funcionário de escritório. E será aí, na capital britânica, que se iniciará no hobby da Fotografia e contagiará Richard em tal actividade. Em 1895 publicam "British Birds' nests", com texto de Richard e fotografias de Cherry, um marco na edição, pois o livro furtava-se às tradicionais ilustrações por gravura, e mostrava "as coisas tal como são e não como supostamente serão", segundo as palavras dum membro do British Museum.
Os dois, profundos conhecedores do comportamento das espécies selvagens britânicas, aplicaram pela primeira vez algumas estratégias que hoje são padrão. Sabendo que a fauna bravia fugia da silhueta humana mas não de outros animais e de formas naturais, foram pioneiros no uso de abrigos camuflados. Sabendo da localização díficil de muitos ninhos e tocas improvisaram equipamentos e estruturas constantemente, demonstrando assinaláveis dotes de equilibristas e malabaristas, para chegar até eles. E, demonstrando um extraordinário fair play, disso não fizeram segredo. Pelo contrário, no seu livro de 1897, "With nature and a camera", reservaram o último capítulo para explicar o modo como haviam conseguido obter as imagens.

Richard e Cherry Kearton,
capa de "With nature and a camera", 1897






Richard e Cherry Kearton,
Fotografando um ninho, 1895-97
imagem do livro "With nature and a camera"

Richard Kearton,
Cherry Kearton num esconderijo, 1899
imagem obtida aqui


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