quinta-feira, 19 de setembro de 2013

As outras operárias

Pouco depois da entrada americana na Segunda Guerra Mundial, foi criada uma agência federal que visava controlar e orientar a política de comunicação em tempo de guerra- o Office of War Information.

A nova organização incorporou um conjunto de serviços pré-existentes, e toda uma experiência comunicacional que fora acumulada na administração Roosevelt, onde a "guerra" se fizera antes contra a Grande Depressão e contra os opositores dos programas de investimento público e de auxílio do presidente.

Iniciada a guerra, as orientações passaram a ser outras, e da necessidade de documentar as dificuldades extremas do povo americano passou-se para a urgência de aumentar a produção industrial e para o enaltecimento da "superioridade cívica e moral" dos americanos. No que diz respeito à imagem fotográfica, das imagens de trabalhadores rurais empobrecidos e forçados à migração interna, que deram notoriedade à Farm Security Administration, um dos organismos da era Roosevelt, passou-se ao registo de operários orgulhosos e determinados a colaborar no esforço de guerra.

Como forma de cativar para a indústria mulheres da classe média, foi política do OWI retratar o trabalho feminino de forma idealizada, transformando as operárias em heroínas glamorosas da frente doméstica, e utilizando técnicas mais adequadas à fotografia de moda e de estúdio, do que à fotografia jornalística ou documental. Heroínas que, como não podia deixar de ser, eram bonitas, bem vestidas, arranjadas e maquilhadas, e de um aprumo e higiene irrepreensíveis, mesmo trabalhando em complicadas funções industriais ( ver  As operárias de Robert Yarnall Richie e As operárias da Propaganda). Nessa via, e ao serviço directo do governo federal, destacaram-se nomes como Howard R. Hollem, Alfred T. Palmer e Robert Yarnall Richie.
Alfred T. Palmer,
Pintando a insígnia da Força aérea num bombardeiro,
Nashville,Tennessee, fevereiro de 1943
imagem obtida aqui

Mas houve casos em que a pulsão documental se sobrepôs às instruções do OWI.
Jack Delano, um fotógrafo que viera da FSA, realizou nesse período uma série de fotografia que são uma verdadeira ode ao trabalho industrial e ao esforço norte-americano. Porém, o seu olhar é muito mais ligado à realidade e muito mais empático com os seus modelos. As operárias que encontrou em Clinton, no Iowa, que faziam a complicada manutenção de locomotivas, e que nos deixou em fotografia, não eram exactamente a personificação da graça feminina e determinada  que o OWI pretendia usar para cativar nova mão-de-obra. Eram outras. Eram um melhor retrato das verdadeiras heroínas americanas, mães e mulheres marcadas pelo trabalho e pela vida, que se sujavam executando alguns dos trabalhos mais duros de uma América que não podia parar, apesar de enviar os seus homens para os campos de batalha europeus e asiáticos.

Jack Delano,
Dorothy Lucke,
uma operária na Roundhouse,
Clinton, Iowa, Abril de 1943
imagem obtida aqui



Jack Delano,
Irene Bracker,
funcionária de manutenção na Roundhouse,
Clinton, Iowa, Abril de 1943
imagem obtida aqui



Jack Delano,
Marcella Hart 
funcionária da manutenção na Roundhouse,
Clinton, Iowa, Abril de 1943
imagem obtida aqui


Jack Delano,
Pausa de almoço das funcionárias
da manutenção  na Roundhouse,
Clinton, Iowa, Abril de 1943
imagem obtida aqui




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