terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os penduras

"Car Poolers" é uma série fotográfica do dominicano Alejandro Cartagena.
Cartagena vive e trabalha no México, e explora a Paisagem e o Retrato como ferramentas de observação das construções culturais, sociais e políticas que enformam as sociedades latino-americanas.
Em "Car Poolers", regista as carrinhas de caixa aberta que passam na auto-estrada que liga Monterrey a Nuevo Laredo, a partir duma ponte. O seu foco é naturalmente centrado nos trabalhadores de construção civil que nelas seguem, acomodados como quaisquer outras mercadorias transportadas.
A forma como estes trabalhadores se dispõem, visando o conforto e organização possíveis numa situação complicada, corresponde metaforicamente à sua condição de vida. Ser um trabalhador manual e com os seus proveitos conseguir o sustento numa sociedade tremendamente desigual e informal como a mexicana é, em si mesmo, um difícil exercício de busca do conforto e da organização possíveis.

Alejandro Cartagena, #22 da série "Car Poolers",
México, 2013
imagem obtida aqui

Alejandro Cartagena, #4 da série "Car Poolers",
México, 2013
imagem obtida aqui

Alejandro Cartagena, #7 da série "Car Poolers",
México, 2013
imagem obtida aqui


Alejandro Cartagena, #13 da série "Car Poolers",
México, 2013
imagem obtida aqui


Alejandro Cartagena, #18 da série "Car Poolers",
México, 2013
imagem obtida aqui


Alejandro Cartagena, #23 da série "Car Poolers",
México, 2013
imagem obtida aqui


Alejandro Cartagena, #28 da série "Car Poolers",
México, 2013
imagem obtida aqui

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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

As outras operárias

Pouco depois da entrada americana na Segunda Guerra Mundial, foi criada uma agência federal que visava controlar e orientar a política de comunicação em tempo de guerra- o Office of War Information.

A nova organização incorporou um conjunto de serviços pré-existentes, e toda uma experiência comunicacional que fora acumulada na administração Roosevelt, onde a "guerra" se fizera antes contra a Grande Depressão e contra os opositores dos programas de investimento público e de auxílio do presidente.

Iniciada a guerra, as orientações passaram a ser outras, e da necessidade de documentar as dificuldades extremas do povo americano passou-se para a urgência de aumentar a produção industrial e para o enaltecimento da "superioridade cívica e moral" dos americanos. No que diz respeito à imagem fotográfica, das imagens de trabalhadores rurais empobrecidos e forçados à migração interna, que deram notoriedade à Farm Security Administration, um dos organismos da era Roosevelt, passou-se ao registo de operários orgulhosos e determinados a colaborar no esforço de guerra.

Como forma de cativar para a indústria mulheres da classe média, foi política do OWI retratar o trabalho feminino de forma idealizada, transformando as operárias em heroínas glamorosas da frente doméstica, e utilizando técnicas mais adequadas à fotografia de moda e de estúdio, do que à fotografia jornalística ou documental. Heroínas que, como não podia deixar de ser, eram bonitas, bem vestidas, arranjadas e maquilhadas, e de um aprumo e higiene irrepreensíveis, mesmo trabalhando em complicadas funções industriais ( ver  As operárias de Robert Yarnall Richie e As operárias da Propaganda). Nessa via, e ao serviço directo do governo federal, destacaram-se nomes como Howard R. Hollem, Alfred T. Palmer e Robert Yarnall Richie.
Alfred T. Palmer,
Pintando a insígnia da Força aérea num bombardeiro,
Nashville,Tennessee, fevereiro de 1943
imagem obtida aqui

Mas houve casos em que a pulsão documental se sobrepôs às instruções do OWI.
Jack Delano, um fotógrafo que viera da FSA, realizou nesse período uma série de fotografia que são uma verdadeira ode ao trabalho industrial e ao esforço norte-americano. Porém, o seu olhar é muito mais ligado à realidade e muito mais empático com os seus modelos. As operárias que encontrou em Clinton, no Iowa, que faziam a complicada manutenção de locomotivas, e que nos deixou em fotografia, não eram exactamente a personificação da graça feminina e determinada  que o OWI pretendia usar para cativar nova mão-de-obra. Eram outras. Eram um melhor retrato das verdadeiras heroínas americanas, mães e mulheres marcadas pelo trabalho e pela vida, que se sujavam executando alguns dos trabalhos mais duros de uma América que não podia parar, apesar de enviar os seus homens para os campos de batalha europeus e asiáticos.

Jack Delano,
Dorothy Lucke,
uma operária na Roundhouse,
Clinton, Iowa, Abril de 1943
imagem obtida aqui



Jack Delano,
Irene Bracker,
funcionária de manutenção na Roundhouse,
Clinton, Iowa, Abril de 1943
imagem obtida aqui



Jack Delano,
Marcella Hart 
funcionária da manutenção na Roundhouse,
Clinton, Iowa, Abril de 1943
imagem obtida aqui


Jack Delano,
Pausa de almoço das funcionárias
da manutenção  na Roundhouse,
Clinton, Iowa, Abril de 1943
imagem obtida aqui




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terça-feira, 17 de setembro de 2013

A senhora Silva

Não sei quem foi a senhora  R. de Lima Silva.
Mas até não me importava de saber...

Harris & Ewing, R de Lima Silva,E.U.A., sem data
imagem obtida aqui


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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Bode "Respiratório"

Na primavera os choupos e os plátanos, árvores comuns no mundo urbano português, libertam as suas sementes. Estas vem agregadas a pequenas e leves fibras que lhes dão flutuação. O ar enche-se de "flocos" que são chamados, à falta de melhor termo corrente, de algodão e que, por serem bastante visíveis, tendem a carregar a culpa das alergias típicas da época (devidas, muito mais provavelmente, aos múltiplos e invisíveis poléns que com eles apanham a boleia do vento).

Júlio Assis Ribeiro, SP_V_LGDPLTN_01, 2012


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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O Paraíso

Há diferentes ideias de paraíso.
Para uns, é um sítio onde brota leite e mel, para outros é uma ilha tropical com areias brancas e água tépida. Para outros ainda, é uma ilha mediterrânica com discotecas a despejar techno em alto volume e outros extras.
Eu próprio tenho várias asserções do paraíso. Mas ultimamente a que predomina será eventualmente uma coisa estranha. Forçado profissionalmente a gozar as férias em Agosto quando, na parte setentrional do mundo, quase todos decidem fazê-lo, vejo-me perante engarrafamentos de trânsito, supermercados a transbordar e magotes de gente nas ruas.
A salvação passa pela cortesia dum familiar e pelo seu convite para uma estadia no que para muitos será um degredo: uma casa duma aldeia da serra algarvia, longe do mar, longe da Internet, longe de tudo. Aí, na torreira do Agosto do Algarve serrano, é possível passar uns dias gastos apenas na tão portuguesa obsessão de saber o que se vai cozinhar na próxima refeição, na fuga ao sol e nos banhos retemperadores numa pequena piscina improvisada.
E ao fim da tarde, quando temperatura começa a descer dos quarenta e a entrar nos trinta Celsius, posso descer a encosta e encaminhar-me para o leito seco da ribeira. Posso passar pelos vários pegos, fundões naturais onde permanece alguma água. E aí, na luz fugidia do fim do dia,  posso brincar aos fotógrafos de natureza, perseguindo com a minha limitada 70-300 as rãs que sobrevivem ao estio extremo, insistindo em enfrentar o sol como se fossem banhistas numa praia.

Júlio Assis Ribeiro, Rã
Monte da Ribeira, 2013

Júlio Assis Ribeiro, Rã
Monte da Ribeira, 2013


Júlio Assis Ribeiro, Rã
Monte da Ribeira, 2013


Júlio Assis Ribeiro, Rã
Monte da Ribeira, 2013


Júlio Assis Ribeiro, Rã
Monte da Ribeira, 2011


Júlio Assis Ribeiro, Rã
Monte da Ribeira, 2011


Júlio Assis Ribeiro, Rã
Monte da Ribeira, 2011

Sim, eu admito. É estranho que o paraíso dum homem adulto seja também o paraíso das rãs. Mas que posso eu fazer? Ninguém é verdadeiramente senhor dos seus gostos.

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